Eu nem queria ir, na verdade. Fui por insistência dos amigos. ''Ah, vai sim, o Desafio é muito bom. Deixa de preguiça! '' - Me diziam insistentemente todos os dias. O Desafio é como uma ''Mini Crisma.'' Tem pregação, louvor, etc. Mas eu não fazia idéia de que seria tão... intenso.
Enquanto eu andava pela rua com as mãos no bolso e ouvindo música, como de costume, me dei conta de que estava pensando no Joseph. As imagens dele, passando como um flash em minha mente e misturando-se com a letra da música que tocava me deixou um tanto confusa e abalada. '' Deve ser porque falei dele com a minha amiga. Não há motivo para desespero.'' - Me justifiquei.
Quando cheguei, nada de muito diferente: Dança, canto, louvor. Quando o monitor começou a conduzir a oração, pediu a todos que fechassem os olhos. Apagaram as luzes, e a banda ficou tocando uma música suave. Toda vez que fechamos os olhos para uma oração, mente e corpo trabalham em conjunto. A mente nos conecta com Deus e o corpo nos faz senti-lo.
- Fechem os olhos e imaginem Jesus na sua frente. - Ele pediu. Imaginei que fosse realmente fosse ver Jesus, com sua túnica branca, seus longos cabelos castanhos, barba por fazer e os olhos incrivelmente doces de todo o mundo. Porém, a visão que tive me perturbou: Joseph. Não Jesus. Joseph estava invadindo minha mente.
Abri os olhos e observei ao redor. Todos estavam de olhos fechados e compenetrados em seus encontros com Deus. Todos sentindo a paz que eu deveria estar sentindo.
'' É alguma brincadeira?'' - Pensei, resmungando em silêncio. Fechei os olhos novamente. E lá estava ele, de novo. Eu abriria meus olhos outra vez, mas o que vi me impediu de fazê-lo: Joseph estava diferente. Usava uma camisa branca, assim como a calça jeans e os tênis. Os olhos me encaravam docemente, e um brilho diferente emanava de todo o seu ser.
- Que diabos você está fazendo aqui? - Perguntei, sentindo uma mistura de raiva e dor crescer dentro de mim. Ele não respondeu. Pude ouvir o monitor dizendo: '' Abracem Jesus. Abracem-no com força.'' Em minha mente, Joseph abriu os braços pra mim. E foi então que entendi. Era Ele. Na forma daquele infeliz que eu amei algum dia.
A razão, eu não sabia, mas nem hesitei em abraçá-lo. E quando fiz isso, meu corpo sentiu um calor diferente. Um calor convidativo.
- Por que ele? - Perguntei, enquanto as lágrimas me brotavam nos olhos. Ele sorriu, e acariciando meus cabelos, me disse calmamente: '' Porque está mais do que na hora de se livrar disso, Mary. ''
Eu desabei, foi demais pra mim. Eu chorava loucamente, enquanto Ele me abraçava e me enbalava lentamente no ritmo da música. '' Dançem com Ele. Digam no ouvido dele o quanto o amam.'' - Dizia o monitor. Na minha mente, pude ver claramente o sorriso Dele se iluminar ao me
ouvir sussurrar '' eu te amo, eu te amo, eu te amo com todo o meu ser. '' Enquanto molhava sua blusa branca com minhas lágrimas. Mas eu não falava para Joseph, e sim para Jesus.
Eu não queria mais sair dali. Sentia-me reconfortava nos braços quentes e aconchegantes de Jesus/Joseph, e a paz interior crescia deliberadamente dentro de mim. Era tudo tão palpável e lindo que por um minuto pensei que fosse real. Quando ele me olhou nos olhos e sorriu, reconheci os olhos e o
sorriso do menino que eu tanto tinha amado e que estava ali, como um anjo pra me salvar.
Luiza Valadares .
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